Dedicado às mulheres inteiras e ativas de todas as idades, cores e formas. Mulheres que interagem e abraçam a vida como der, puder e vier.
Sempre desejadas!








Perdas ou Ganhos?

Nada mais comum em uma roda de mulheres que as lamúrias acerca de suas vidas sobrecarregadas de tarefas que, há muito, deixaram de se limitar aos afazeres do lar.
Tais lamúrias são compreensíveis, afinal, bem sabemos que não é fácil compatibilizar um projeto profissional com as sempre prementes necessidades e carências familiares que continuam, preponderantemente, sob a regência e responsabilidade femininas.
Mas, afinal, será que nós, mulheres, saímos mesmo perdendo com este movimento social tão importante e significativo como a Revolução Feminista? Será certo dizer que, ao invés da pretendida igualdade de direitos e status entre homens e mulheres, o nosso único "prêmio" acabou se limitando às tais duplas, triplas e até quadruplas jornadas?
Compreendo as dificuldades das mulheres contemporâneas, até por vivê-las intensamente, mas, mesmo assim, além de ter uma visão otimista sobre este tema, admiro, aplaudo e agradeço às mulheres que, de forma extremamente corajosa, queimaram o soutien e abriram um precioso espaço para tão importantes conquistas.
Ora, basta voltarmos a um passado nada remoto para percebermos o quanto ganhamos e, mais do que nós, o quanto ganharam as relações familiares e, até mesmo, os homens, com esta revolucionária evolução.
No que nos diz respeito, ao passarmos a nos reconhecer e a sermos reconhecidas como seres capazes de produzir riquezas materiais e intelectuais, criando novos espaços profissionais ou ocupando espaços antes quase exclusivamente ocupados pelo sexo masculino, a dependência financeira, relevantíssimo fator de dominação que engessava, muitas vezes, os desejos mais básicos de algumas mulheres, deixou de ser determinante de comportamentos, atitudes e reações que decorriam não de um livre arbítrio, mas sim de uma total falta de alternativas.
A possibilidade de agir livremente, de acordo com os próprios desejos e expectativas, representa, sem dúvida alguma, um ganho inestimável, indisponível e inegociável. A independência financeira da mulher nos tempos atuais, é, além de imprescindível –considerando que, atualmente, a renda conjunta de um casal é quase uma questão de sobrevivência financeira da família – um fator determinante para o seu desenvolvimento emocional.
É claro que ainda há mulheres que desistem ou adiam os seus projetos profissionais em função da vida profissional do marido ou, simplesmente, por acharem imprescindível a sua presença ao lado dos filhos. Esta é uma opção que deve ser respeitada, mas que, muitas vezes, é profundamente lamentada no futuro.
No que diz respeito aos homens, inseguranças à parte, tenho certeza que eles só ganharam com a nossa Revolução. Afinal, não é possível que não tenham se cansado de serem os únicos provedores da família, de estarem sempre distantes dos filhos, de terem que ditar as regras na mesa e na cama.
Certamente, muitos homens, mesmo os mais jovens, mesmo os ditos "de vanguarda", ainda permanecerão, por algum tempo – espero que não muito longo – confusos sobre seus novos papéis e funções. Mas isto é, apenas, uma questão de tempo e de maturidade. Afinal, toda mudança de costumes é dolorosa, demorada e exige coragem e perseverança.
Mas não desanimemos! O caminho é este mesmo. Já não precisamos queimar soutien em praça pública, mas ainda há espaços e direitos a serem conquistados. Mostrando aos nossos filhos, na prática, a importância de se ter um projeto profissional que lhes dê suficiente autonomia e a importância da construção da individualidade e do respeito ao próximo, já estaremos contribuindo para uma desejada evolução dos costumes, em benefício de todos. E façamos isto sem perder a ternura jamais, que esta é, indiscutivelmente, a base de qualquer relação que se pretenda saudável.

Letícia Jost Lins e Silva

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