Nossa casa sempre vive cheia. Quatro filhos, muitos amigos. Pais, ah, os pais. Sim, porque pai sem mãe não existe, não é? Então é hora de homenagear os dois, mesmo sendo Dia dos Pais.
Felizmente ainda na era pré-histórica, o computador, DVD (ou o videocassete precurssor), celular e todos os gadgets que hoje existem não faziam a MENOR falta. Isso! Asseguro, era muito mais divertido.
Brincávamos de pegar chuva na calçada. De esconde-esconde. De fazer sombra dos brichinhos no escuro, com a ajuda de uma lanterna. Ou de mágica: o pai e o meu irmão mais velho, o Flavio, se escondiam numa tenda feita de lençol e com a ajuda de linhas que não víamos, claro, conseguiam fazer colherzinha de café mexer no copo. Como se fosse mágica. E uma varinha voava também! Ficávamos nós - e os amigos - todos boquiabertos.
Ah! A tv já era colorida é verdade. Mas nem fazia falta. Bom mesmo era poder brincar de pique-bandeira, pique-cola e tantos piques que já nem me lembro. E procurar "calango" (aquele bicho verde, jeito de pré-histórico) no jardim? Morávamos em Recife, de beira prá linda praia de Boa Viagem. O pai descobriu um calango (grande mesmo) que vivia no jardim. Virou quase de estimação. E o batizamos de João. Íamos para o jardim procurá-lo. Temos foto, não sei se acho.
Praia, passeios, viagens. Pula-pula, pega-pega e tudo mais. Shopping? Arghhhh! Felizmente nem existia.
E tinha também a brincadeira predileta: casinha, mas com toques de realidade. O pai descobriu uma minifrigideira de boneca. E fazia para todos ovo de codorna frito dentro de um miniforninho americano (ainda não existiam os brasileiros naquela época). Era tuuuuudo de bom!
Exatamente: ovo de codorna frito.
Pais, no plural, sempre no plural. Nem uma palmada, nem um beliscão. Os tempos eram outros. E mesmo com autoridade, sabíamos que em uma só chamada ou enquadrada era hora de parar e obedecer. A mãe, com jeito sempre de professora, mestra, sempre apaziguadora tentando aparar arestas, aceitar cada um na sua diferença. Ouvia e não entendia. Hoje bem sei: filhos todos criados da mesma forma, cada um do seu jeito. Sábias palavras!
Para terminar, lembro de uma última história. Detestava a escola rígida de Recife logo que nos mudamos. Vinha de outra bem mais liberal, no Rio. E tinha toda a diferença cultural. Os sotaques, os costumes. Não queria por naaaada aprender o bê-a-bá. Sonsa, insolente, indisciplinada, mal educada, um pouco de tudo. Fingia não saber do que estavam falando. E ficava muda. Mudinha da Silva. Pode?
Os pais foram chamados na escola. O pai apareceu por lá. Lembro como se fosse hoje. Vi só o rosto dele, na janela da sala, parecendo um gigante. Nem uma palavra. Só olhando. Eu fiz, de uma só vez, o vá-vé-vi-vo-vu, em alto e bom som. A professora e os coleguinhas nem acreditaram. Daí prá frente aprendi tudo e passei a gostar da escola e da nova cidade.
Lembranças de ontem, de hoje, de sempre. Pais, amo vocês!
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