Cláudia Alencar
Na rua deserta
Na manhã insone
Reina imponente
Um telão de bruma
Travestido de paulistana garoa
Cegando onipotente
Céu, morro, cristo, lagoa
Ergam as cortinas do teatro divino
Que comece o espetáculo previsto
Mas me apareçam com ensolarado figurino
Morro, céu, lagoa, cristo
Talvez estejam dormindo
– Então deixe-os
Deixe-os simularem a morte
Não tive a mesma sorte
Meu sono decretou greve
Hoje essa triste névoa me traduz
Mas e amanhã?
Serei velho cinza angustiado
Ou talvez, um raro rosa ou azul desleixado?
Cristo, morro, lagoa, céu
Como ser uma só se a natureza é tão desigual
Se o dia me ensina a ser divina no plural
Se a vida todo dia é troca de fantasia
Cristo, lagoa, céu, morro
Tão volúveis na sua permanência
Tão variados na sua mesmice
Tão bruxos na sua ciência
Tão jovens na sua velhice
Me ensinem essa sua saudável insolência
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