Feliz Aniversário

Dia 22 de março acordei um ano mais velha. Esse foi meu primeiro pensamento - estou um ano mais velha.
Olhei o teto, o espaço, buscando um ponto presente que me dissesse aonde eu estava. Abri a janela, olhei as crianças brincando no play e lembrei-me de meus filhos com aquela idade – logo meu pensamento foi para as coisas que não realizei com eles, nos abraços que não dei, nos momentos que perdi. Pensei nas oportunidades que joguei fora, nas decisões erradas, no dinheiro que gastei indevidamente, nas ginástica que não fiz, nas pessoas que julguei amar e que pensei amar, nos relacionamentos errados, nas amigas que deixei de cultivar, nos trânsitos astrológicos que fiz, na busca espiritual que e na forma que ela teve até agora, e tantas outras coisas que me pareceram “erradas”. E agora, como re-fazer?
E aí eu ouvi - Feliz Aniversário.
Nossa, era o meu aniversário. Comecei a pensar então no aniversário ao invés de pensar nos anos que haviam passado. E quanto mais eu pensava, mas tinha vontade de fazer coisas.

Comecei o dia – não quero grandes comemorações e agito. Quero ver o que virá. Primeira providência, cancelar a pizza da noite (era domingo, e em São Paulo, tudo acaba em pizza no domingo) Já estava agendado, mas havia algo a mais a ser vivido.
Comecei primeiro a pensar no que gostaria de fazer desse ano prá frente pois o dia estava resolvido. Mas logo vi que estava voltando para o mesmo padrão. A lista. E agora, como fazer sem uma lista de como e do que fazer para ser feliz?
Respirei, alinhei e senti. Apenas senti – queria apenas ser. E fui. Tive um dos meus melhores dias de aniversário pois estava bem comigo. Sem compromisso em ter que, sem agenda, sem aguardar quem ia ligar ou não, sem julgar, sem organizar. Apenas ser.
Ser não tem idade, não tem lugar, não tem condição. É claro que o fazer faz parte - mas é uma consequência.
Descobri que ao ser, a vontade é a mesma dos cinco aos cinqüenta – vontade de ser feliz. SER feliz! E quando tirei a culpa pelos erros e por não ter acertado, vi quantas experiências boas ainda estão por vir se eu deixar a porta aberta.
Nesse dia, sem esperar ou programar, vi meus filhos me darem amor e carinho e tudo que construímos juntos. Vi minha mãe idosa comemorar meu nascimento. Vi minha irmã, meus sobrinhos, minhas amigas, meu namorado e tantas outras coisas. Me abri para receber.
Aprendi aos cinqüenta e quatro anos que nem tudo depende do meu controle. Que há algo no ar que, mesmo que eu não possa compreender ou definir, me traz proteção, amor e um caminho bom e seguro a seguir. Que quando a gente se abre para ser e ver e ouvir, há muito em nossas vidas para ser acolhido. Afinal, o essencial é realmente invisível ao olho comum.