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Léo e Bia

Por Isabel Capaverde, de Plurale em site

O artista é daqueles que desperta paixão e desprezo na mesma intensidade. Ou seja, existe uma legião de fãs que o segue desde o final dos anos 70 quando foi descoberto pelo Brasil cantando Bandolins num festival de música da extinta TV Tupi. E uma outra facção que o despreza e a toda a sua produção de músicas, peças teatrais, trilhas sonoras, enfim, sua arte que tem um clima adolescente, por falar de sonhos, amores, liberdade, tudo com um toque meio hippie, meio “bicho grilo”. Mas gostando ou não, Oswaldo Montenegro é um artista que merece todo respeito por ter feito uma carreira que completa 30 anos num esquema que se poderia chamar de “off mídia”.

Isso num tempo em que ainda não existiam todas as alternativas virtuais (as chamadas mídias sociais) que hoje são capazes de fazer conhecido alguém que não tenha estado na tela da TV Globo, seja atuando, participando dereality show ou fazendo parte de trilha de novela. Pois esse cara chega agora ao cinema, no papel de diretor e roteirista. Oswaldo levou para a telona sua bem sucedida peça Léo e Bia, musical que como Dança dos Signos bateu recordes de bilheteria nos anos 80, rodando pelos palcos de todo Brasil e ficando anos em cartaz.

Para os que tem menos de 40 (e poucos...) e não viverem o boom de Oswaldo Montenegro vamos a sinopse de Léo e Bia: o cenário é Brasilia, em 1973, no auge da ditadura militar. Sete amigos, jovens como a cidade em que moram, sonham viver de teatro. Liderado pelo diretor Léo (o alter ego de Oswaldo Montenegro), o grupo leva adiante os ensaios de uma peça que tece comparações entre Jesus Cristo e o cangaceiro Lampião. Em paralelo a repressão política, a mãe de uma das jovens adoece. E em sua desvairada obsessão pela filha Bia, oprime a jovem cruelmente. Somada à atmosfera opressora, a aridez cultural de Brasília. A turma do Distrito Federal sonha por romper com esta cotidiana asfixia.

Ao levar a história para o cinema, Oswaldo não se limitou a filmar a peça, o que seria fácil para o autor e certamente chato para o espectador. Ele criou um jeito diferente de contar a mesma história. Usou recursos do teatro como utilizar sempre o mesmo cenário, o galpão de ensaio de uma companhia teatral e elementos como a cama de gato ou o empilhamento de cadeiras e caixotes dando um clima opressivo e dramático. Mas fez a protagonista (que na verdade não é a Bia do título e sim Marina, a grande amiga de Léo) vivida pela atriz Paloma Duarte – que na vida real foi casada com Oswaldo até pouco tempo – falar com o espectador em determinados momentos.

A trilha ora é cantada e tocada por músicos que fazem parte daquele grupo de teatro do Léo e da Bia, ora surgem de pano de fundo das cenas nas vozes de feras como Ney Matogrosso e Zélia Duncan. O elenco, que como já foi dito é encabeçado por Paloma Duarte que também é co-produtora do filme, tem caras jovens e conhecidas como Fernanda Nobre (anos em “Malhação” e hoje integra o elenco da TV Record), Vitória Frate (a Júlia de “Caminhos das Índias”, da TV Globo), Emílio Dantas (trabalha há muitos anos com Oswaldo Montenegro), Pedro Nercessian (também surgiu na “Malhação”, da TV Globo), Pedro Caetano (integrou o elenco da Record) e Ivan Mendes. Quem rouba a cena a cada vez que aparece é Françoise Fourton, numa participação muito especial.

O que chama atenção além das músicas que nos 80 viraram hits (muitas, confesso, sei de cor) é a quantidade de frases inteligentes, algumas delas antológicas e que representam bem o tempo retratado. O pior é que muitas citações ou letras de músicas ainda estão atuais. Vide a canção dedicada aos professores que fala dos baixos salários. Realidade em 1973 e 2010. Léo e Bia pode ser visto tanto como uma viagem no túnel do tempo como numa história de conflitos, dúvidas e sonhos da juventude, algo absolutamente atemporal. No fundo, muda só a embalagem (cabelos, roupas, gírias, hábitos), porque a essência é a mesma.

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