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BISBILHOTAGEM EM FAMILÍA

Letícia Jost Lins e Silva

Todos já ouvimos falar, senão sentimos na própria pele, que estamos vivendo em um estado policial. Medidas de quebra de sigilo telefônico e de dados em geral proliferam nos procedimentos de natureza criminal, transformando em regra o que deveria ser exceção. Intimidade e privacidade viraram artigos de luxo para quem ainda lhes dá importância. Isto não é novidade.

A novidade é que a bisbilhotagem chegou e se instalou no ambiente familiar, tendo, como principal alvo, crianças e adolescentes. Aqui, a “proteção” destes é o que constitui o tal “fim” que justificaria o “meio”: a irrestrita vigilância dos pimpolhos em suas atividades “internéticas”.

As sugestões são as mais variadas: computadores só devem ser instalados em áreas comuns da residência; tenham as senhas de seus filhos; façam incursões diárias nos sítios de relacionamento deles. Sem nenhum pudor, monitorem, monitorem e monitorem! A justificativa é comum: é preciso protegê-los e, neste caso, os fins justificam os meios.

Será? Tenho dúvidas.

Não sei se, por vincos da profissão de Advogada ou pela educação liberal que tive a sorte de receber de família, esta “bisbilhotagem”, encarada de forma tão natural entre pais e educadores, tem provocado em mim um certo desconforto, mesmo compreendendo a boa intenção da maioria de seus autores.

A mim parece que este tipo de vigilância, além de não servir aos fins que a justificariam, só tem aumentado a distância entre pais e filhos e tornado ainda mais rara uma prática que, embora mais trabalhosa, sempre me pareceu mais digna, ética e saudável em termos de educação: a prática da conversa aberta e franca. Acreditem: não há saída fora do diálogo.

Agir sorrateiramente, trair a confiança de um jovem, invadir a sua privacidade são atitudes que só servirão para infantilizá-lo, diminuindo-lhe a capacidade de pensar e agir com responsabilidade. Jovens irresponsáveis são como balas perdidas. Ninguém controla. Não tenham esta ilusão.

A confiança que os nossos filhos depositam em nós não deve ser menosprezada e não merece ser traída, em qualquer circunstância. Privacidade e intimidade são direitos de todos, mesmo dos mais jovens. Respeitar estes direitos e tomar o caminho do diálogo aberto é o melhor exemplo que podemos dar aos nossos filhos e a melhor maneira de protegê-los.

4 comentários:

Anônimo disse...

Cara Leticia, Os pais não precisam ser policiais, mas acho que controle, como orientação é necessário, sim.

Ana Cecília Vidaurre disse...

Letícia, vc está certíssima,adorei o seu texto. Antes de mais nada temos que respeitar nossos filhos e dar os famosos "votos de confiança". O mundo mudou, nós é que temos q nos adaptar sem estressá-los, mostrando a mesma autoridade de sempre sem ser chatas! Acompanhar, saber onde estão, dar limites e deixá- los VIVER!
bj

Maria Lúcia Poyares disse...

Leticia,, é isso aí: "criar o hábito da conversa aberta e franca", o que, naturalmente, leva o jovem a sentir cumplicidade com os pais. Criei quatro filhos adotando a educação liberal e eles estão aí com a mesma tática e está dando certo.
Senti falta de seus posts. Beijinhos

Mariangela Buchala disse...

Letícia, muito bem colocado. Confiança é um laço entre pais e filhos que precisa ser cultivado para se tornar forte. Não dá para ter esse controle que se propõe. Tenho dois adolescentes e sinto que a melhor coisa é o coração tranquilo de saber que o exemplo de dentro de casa é o que dá a base.