Dedicado às mulheres inteiras e ativas de todas as idades, cores e formas. Mulheres que interagem e abraçam a vida como der, puder e vier.
Sempre desejadas!








Ovo de codorna frito

Sônia Araripe

Nossa casa sempre vive cheia. Quatro filhos, muitos amigos. Pais, ah, os pais. Sim, porque pai sem mãe não existe, não é? Então é hora de homenagear os dois, mesmo sendo Dia dos Pais.
Felizmente ainda na era pré-histórica, o computador, DVD (ou o videocassete precurssor), celular e todos os gadgets que hoje existem não faziam a MENOR falta. Isso! Asseguro, era muito mais divertido.
Brincávamos de pegar chuva na calçada. De esconde-esconde. De fazer sombra dos brichinhos no escuro, com a ajuda de uma lanterna. Ou de mágica: o pai e o meu irmão mais velho, o Flavio, se escondiam numa tenda feita de lençol e com a ajuda de linhas que não víamos, claro, conseguiam fazer colherzinha de café mexer no copo. Como se fosse mágica. E uma varinha voava também! Ficávamos nós - e os amigos - todos boquiabertos.
Ah! A tv já era colorida é verdade. Mas nem fazia falta. Bom mesmo era poder brincar de pique-bandeira, pique-cola e tantos piques que já nem me lembro. E procurar "calango" (aquele bicho verde, jeito de pré-histórico) no jardim? Morávamos em Recife, de beira prá linda praia de Boa Viagem. O pai descobriu um calango (grande mesmo) que vivia no jardim. Virou quase de estimação. E o batizamos de João. Íamos para o jardim procurá-lo. Temos foto, não sei se acho.
Praia, passeios, viagens. Pula-pula, pega-pega e tudo mais. Shopping? Arghhhh! Felizmente nem existia.
E tinha também a brincadeira predileta: casinha, mas com toques de realidade. O pai descobriu uma minifrigideira de boneca. E fazia para todos ovo de codorna frito dentro de um miniforninho americano (ainda não existiam os brasileiros naquela época). Era tuuuuudo de bom!
Exatamente: ovo de codorna frito.
Pais, no plural, sempre no plural. Nem uma palmada, nem um beliscão. Os tempos eram outros. E mesmo com autoridade, sabíamos que em uma só chamada ou enquadrada era hora de parar e obedecer. A mãe, com jeito sempre de professora, mestra, sempre apaziguadora tentando aparar arestas, aceitar cada um na sua diferença. Ouvia e não entendia. Hoje bem sei: filhos todos criados da mesma forma, cada um do seu jeito. Sábias palavras!
Para terminar, lembro de uma última história. Detestava a escola rígida de Recife logo que nos mudamos. Vinha de outra bem mais liberal, no Rio. E tinha toda a diferença cultural. Os sotaques, os costumes. Não queria por naaaada aprender o bê-a-bá. Sonsa, insolente, indisciplinada, mal educada, um pouco de tudo. Fingia não saber do que estavam falando. E ficava muda. Mudinha da Silva. Pode?
Os pais foram chamados na escola. O pai apareceu por lá. Lembro como se fosse hoje. Vi só o rosto dele, na janela da sala, parecendo um gigante. Nem uma palavra. Só olhando. Eu fiz, de uma só vez, o vá-vé-vi-vo-vu, em alto e bom som. A professora e os coleguinhas nem acreditaram. Daí prá frente aprendi tudo e passei a gostar da escola e da nova cidade.
Lembranças de ontem, de hoje, de sempre. Pais, amo vocês!


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